Lembranças em guató
O filme a seguir é um compilado de nossos dias com Eufrásia, suas histórias, nossas entrevistas, elicitações e viagens - realizados entre 2016 e 2018. Eufrásia Ferreira - cujo nome em guató é [d͡ʒariguka] - nasceu num dos antigos aterros de seu povo, vindo a aprender a falar português apenas na adolescência. Por volta do final da década de 1970, saiu do Pantanal, indo morar na cidade de Corumbá, donde sua língua primeira foi soterrada pelo português. Quando a conhecemos, em 2016, há muito já não falava o guató, do qual sempre se lembra estar esquecida. Apesar disto, já nos ensinou muito do pouco documentado guató... Em sua companhia, viajamos para a aldeia Uberaba, onde ela morou por alguns anos quando jovem e para o rio São Lourenço, na casa de Vicente - o outro guató que ainda se recorda da língua - o último encontro de dois falantes do idioma do povo canoeiro.
A língua guató existe
A língua guató é última língua das terras inundáveis do Pantanal, que, infelizmente, não é mais transmitida há algumas gerações. Apesar disto, ainda há dois falantes conhecidos, que já não usam mais o idioma - e rumores de que talvez exitam mais alguns. |
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Um dos últimos falantes da língua guató, Eufrásia Ferreira.
Em Corumbá, 22/02/2017, Eufrásia comenta sobre como preparou seu almoço.
Em Corumbá, 22/02/2017, Eufrásia comenta sobre como preparou seu almoço.
Equipe do subprojeto Guató: Bruna Franchetto, Gustavo Godoy, Walter Alves, Dayane Pontes e Kristina Balykova
Pantanal indígena
No século XVI, os Guató depararam-se com a invasão europeia, inicialmente espanhola e, mais tarde, lusa. Apesar disto, o povo Guató persiste como o único grupo ameríndio, de hábitos canoeiros, ainda presente nas áreas inundáveis do Pantanal. Com eles, outros povos, hoje extintos, habitaram e modificaram a paisagem pantaneira.
O Pantanal pré-colonial formava um sistema multilíngue que era, talvez, encabeçado pelos "Xarayes" - povo de língua arawak, provavelmente relacionada ao Pareci e ao Enawenê-nawê. Deste povo que derivou o nome que a coroa espanhola deu para a região, conhecida como "Laguna" ou "Lagunas de los Xarayes" até a dominação deste território pelos mamalucos paulistas e a posterior integração ao Estado Brasileiro, quando o território passou a ser conhecido como "Pantanal". Foi neste contexto que os Guató foram citados pela primeira vez, junto com povos hoje extintos.
Os slides a seguir tratam da complexidade que existia no Pantanal pré-colonial, formando um sistema multilíngue permeado por relações de alianças, trocas e intrigas que ligavam desde a costa atlântica até o sopê dos Andes. Baseada em pesquisas de historiadores (como I. Combès) e arqueólogos (como J. Eremites de Oliveira, Mª Clara Migliacio e outros), a apresentação de Gustavo Godoy foi apresentada no Workshop Towards a typology of regional multilingual systems: West Africa and Amazonia. O resumo do evento, feito por Rachel Watson, pode ser lido no seguinte link: https://soascrossroads.org/2017/09/20/workshop-towards-a-typology-of-regional-multilingual-systems-west-africa-and-amazonia-by-rachel-watson/ |
Os Guató e sua antiga língua foram pesquisados pelo etnólogo alemão Max Schmidt, autor das primeiras informações gramaticais e de um léxico considerável. Schmidt, que conheceu o Pantanal nos anos de 1901, 1910 e 1928, observou que já nesta época os homens falavam português e que tinham relutância de ensinar-lhe a língua.
Os Guató sofreram intenso processo de expropriação de seu território e de desagregação social. Parte deles se organizou na década de 1970 para exigir seus direitos territoriais, culminando na demarcação da Terra Indígena Guató (no Mato Grosso do Sul).
Parte desta trajetória foi retratada no filme 500 almas, de Joel Pizzini.
Os Guató sofreram intenso processo de expropriação de seu território e de desagregação social. Parte deles se organizou na década de 1970 para exigir seus direitos territoriais, culminando na demarcação da Terra Indígena Guató (no Mato Grosso do Sul).
Parte desta trajetória foi retratada no filme 500 almas, de Joel Pizzini.
Oficina para a revitalização
(TI Baía dos Guató, Mato Grosso - agosto de 2016)
De 20 a 29 de agosto de 2016, estivemos na Terra Indígena Baía dos Guató para a realização da primeira oficina de revitalização da língua. Como resultado, foi esboçada uma cartilha com vocabulário e frases básicos, impressa e em áudio. Este material, junto com algumas gravações, foi disponibilizado para os participantes. A cartilha deverá ser usada na futura escola indígena que está prevista para ser inaugurada em 2017. Os materiais linguísticos, principalmente escritos, que serviram de base para a oficina e a cartilha, foram, principalmente, a tese da linguista Adair Palácio (1984) e, como referência para um estudo fonológico, a dissertação de Adriana Postigo (2002). Outra fonte importante é a pesquisa do arqueólogo Jorge Eremites de Oliveira (1995 e 2002), que etnografou os últimos falantes guató e anotou itens lexicais referentes à subsistência.
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Compartilhamos com os Guató o material documental escrito e gravações recuperadas dos acervos de Adair Palácio, de Adriana Postigo e o filme 500 almas de Joel Pizzini.
Entrevistamos famílias e indivíduos dos remanescentes guató de MT, tratando da perda da língua, da situação fundiária, trajetórias de vida, técnicas e conhecimentos de subsistência (como a fabricação da canoa). Destas gravações estão sendo editados dois vídeos, o primeiro sobre o esquecimento da língua, seu resgate e a importância de uma escola indígena em que sejam praticados e desenvolvidos trabalhos de revitalização linguística e cultural. |
Em busca do Guató
(Barra do São Lourenço e Corumbá - outubro de 2016)
Do dia 03 até 14 de outubro de 2016, Gustavo Godoy viajou para Corumbá e de lá para a barra do Rio São Lourenço. O objetivo foi conhecer e entrevistar os últimos falantes da língua guató, que já não a usam mais em seu dia-a-dia, e obter mais informações sobre o processo de extinção linguística. Foram coletados novos dados, como listas de palavras e frases.
No rio São Lourenço, encontrou Vicente, o falante mais fluente, e, na cidade de Corumbá, Eufrásia, que não falava guató há muito tempo. Porfírio e Tum, filhos da finada Francolina Rondon (uma das últimas falantes), não aprenderam a língua, mas deram valiosos depoimentos sobre a história de sua família.
No rio São Lourenço, encontrou Vicente, o falante mais fluente, e, na cidade de Corumbá, Eufrásia, que não falava guató há muito tempo. Porfírio e Tum, filhos da finada Francolina Rondon (uma das últimas falantes), não aprenderam a língua, mas deram valiosos depoimentos sobre a história de sua família.
A finada Francolina Rondon, uma das últimas falantes do guató. E última cantante que se teve notícia. Gravação e doação das imagens: Adriana Postigo (17/01/08).
Goxéuvý iótý: Língua de gente
Uma amostra das atividades realizadas na Baía dos Guató em 2016 foi editada em vídeo por Júlia Leão, junto com algumas das falas de Eufrásia e Vicente.
O material audiovisual coletado está arquivado no acervo Prodoclin do Museu do Índio. Na viagem para a TI Baía dos Guató (MT), as gravações somaram 10,5 horasminutos de vídeo e 6,1 horas de áudio. O acervo digital coletado na viagem à barra do São Lourenço e à Corumba somaram 4,8 horas de gravação em áudio e 2,7 horas de gravação em vídeo. O material será depositado no acervo do ProDoclin (Museu do Índio, RJ); dados e entrevistas serão incorporadas em um documentário em fase de edição.
O material audiovisual coletado está arquivado no acervo Prodoclin do Museu do Índio. Na viagem para a TI Baía dos Guató (MT), as gravações somaram 10,5 horasminutos de vídeo e 6,1 horas de áudio. O acervo digital coletado na viagem à barra do São Lourenço e à Corumba somaram 4,8 horas de gravação em áudio e 2,7 horas de gravação em vídeo. O material será depositado no acervo do ProDoclin (Museu do Índio, RJ); dados e entrevistas serão incorporadas em um documentário em fase de edição.
Visitando Eufrásia (Corumbá)
Entre os dias 17 e 25 de Fevereiro de 2017, Gustavo e Walter foram à Corumbá visitar Eufrásia que, junto de Vicente, formam a dupla de últimos falantes lembrantes da língua Guató.
A visita teve os seguintes objetivos: i) ampliar os dados para documentação da língua, gravando novas palavras e sentenças; ii) investigar a expressão de propriedades quantificacionais (palavras para “poucos”, “muitos”, “alguns”, etc); iii) traçar a história de desaparecimento do idioma.
Para conversar sobre o desaparecimento da língua Guató, visitamos os parentes de Eufrásia, como Jaci, sua prima, e Dona Brandina, filha de Dona Negrinha, que era falante de guató. Dona Negrinha era sogra de Eufrásia, com quem compartilharam muitas histórias.
Foram registradas 5,5 horas de gravações de áudio em formato .wav e 49 minutos de filmagens, em formato .mts.
A visita teve os seguintes objetivos: i) ampliar os dados para documentação da língua, gravando novas palavras e sentenças; ii) investigar a expressão de propriedades quantificacionais (palavras para “poucos”, “muitos”, “alguns”, etc); iii) traçar a história de desaparecimento do idioma.
Para conversar sobre o desaparecimento da língua Guató, visitamos os parentes de Eufrásia, como Jaci, sua prima, e Dona Brandina, filha de Dona Negrinha, que era falante de guató. Dona Negrinha era sogra de Eufrásia, com quem compartilharam muitas histórias.
Foram registradas 5,5 horas de gravações de áudio em formato .wav e 49 minutos de filmagens, em formato .mts.
Julho e Agosto de 2017: viagem ao Mato Grosso e ao Mato Grosso do Sul
Durante o mês de julho e o começo de agosto, realizamos mais uma viagem pelo projeto, tendo como participantes Walter Alves, Kristina Balykova e Gustavo Godoy. Na Terra Indígena Baía dos Guató (MT), realizamos a segunda Oficina de Revitalização da língua guató de 10 a 15 de julho de 2017. Revisamos parte do conteúdo da primeira oficina, utilizando um jogo da memória com nome de animais.
A segunda oficina de revitalização do Guató, na TI Baía dos Guató (Mato Grosso)
Em Corumbá (MS), na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), ministramos, entre os dias 31 de julho a 3 de agosto, um mini-curso sobre a gramática do guató para os professores indígenas da Terra Indígena Guató (MS). Além disso, apresentamos a eles o projeto de revitalização.
Voltamos a encontrar Eufrásia Ferreira, com quem continuamos o trabalho de documentação linguística.
Voltamos a encontrar Eufrásia Ferreira, com quem continuamos o trabalho de documentação linguística.
Eufrásia Ferreira ao centro, sendo entrevistada por Walter e por Kristina.
Passamos alguns dias com Dalva Maria de Souza Ferreira, uma das principais lideranças no processo de retomada da identidade e da demarcação da TI Guató. Ela documentou essa luta em fotos.
Dalva foi quem cuidou de vários dos últimos falantes de guató, sendo que com algum deles coletou um considerável número de palavras e frases, tudo registrado em seus cadernos de campo. |
Vejam o depoimento gravado pela equipe do subprojeto guató em Corumbá no dia 29 de julho de 2017.
(Observação: após a gravação, Dalva notou que é importante ressaltar que o início da luta pela identificação dos Guató começou com sua sogra, dona Josefina, ainda nos anos 1970, fato que ela não comentou longamente no vídeo - tendo pedido para nós posteriormente para enfatizar isto.)
(Observação: após a gravação, Dalva notou que é importante ressaltar que o início da luta pela identificação dos Guató começou com sua sogra, dona Josefina, ainda nos anos 1970, fato que ela não comentou longamente no vídeo - tendo pedido para nós posteriormente para enfatizar isto.)
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Segunda cartilha guató
Organizada por Walter Alves, esta cartilha deriva da nossa experiência na viagem que fizemos entre julho e agosto de 2017, na Terra Indígena Baía dos Guató e em Corumbá. Seu conteúdo enfoca três temas: (1) palavras para alimentos, bebidas e objetos relacionados a eles; (2) frases com verbos transitivos no presente do indicativo e no passado; (3) palavras para números e expressões para quantidades.
Janeiro de 2018: Corumbá, Uberaba e baixo São Lourenço
Corumbá.
Entre 4 e 27 de janeiro de 2018, Kristina Balykova e Gustavo Godoy voltaram para Corumbá. Por lá, entrevistamos novamente Eufrásia, sobre sua vida e elicitamos novos dados em guató. Gravamos entrevista com Jaci, prima de Eufrásia, que contou sobre sua trajetória de vida, sendo que ela nasceu em Uberaba. Voltamos a conversar com outra prima de Eufrásia, Brandina. Brandina é filha da finada Francolina Rondon. A filha de Brandina, Fátima, voltou a morar na aldeia Uberaba. Ainda da família de dona Negrinha, estivemos com Sebastião e Aida, os caçulas da família.
Jaci, prima de Eufrásia. Contou-nos a história de sua finada avó e de sua finada mãe, que eram falantes do guató, e como a língua se perdeu na família.
Fotos 3x4 dos finados irmãos de Eufrásia: Cipriano e Francisca.
Reencontro: Uberaba
Entre os dias 12 e 14 e no dia 17, estivemos, na aldeia Uberaba, junto com Eufrásia. Eufrásia revisitou o Pantanal e reencontrou parte da família. Lá, conhecemos também algumas das histórias do final do idioma guató.
Imagens da viagem para a Aldeia Uberaba. Na sequência: Cecília em sua casa (dia 13/01/2018); os primos de Eufrásia (que são filhos da finada Zulmira: Alfredo e Eufrásia; Benedito; por último, Ginho, Eufrásia e Dito (fotos do dia 14/01/2018).
O encontro: Eufrásia vai até o baixo São Lourenço
Nos dias 15 e 16 de janeiro de 2018, fomos ao encontro de Vicente, levando Eufrásia para conhecer seu patrício e o outro último falante que conhecemos. Conosco foram Luiz Carlos, cacique de Uberaba, e Fernando, morador de Uberaba e nosso piloteiro.
Os dois não se conheciam muito. Vicente conheceu a mãe de Eufrásia, Sabina, e também alguns dos irmãos dela, como José. Eufrásia lembrou que já tinha visto Vicente certa vez.
Os dois não se conheciam muito. Vicente conheceu a mãe de Eufrásia, Sabina, e também alguns dos irmãos dela, como José. Eufrásia lembrou que já tinha visto Vicente certa vez.
A morada de Vicente no baixo São Lourenço. As imagens são dele e Eufrásia na frente da casa; Eufrásia olhando o rio São Lourenço; Vicente e Luis Carlos (o cacique de Uberaba); canoa em preparação feita por Vicente; por último, o morro do Caracará.
Um descrição completa do que fizemos nesta viagem está no relatório a seguir, de Kristina Balykova:
Relatórios dos bolsistas
Walter Alves, Kristina Balykova e Dayane Pontes
Acervo digital da língua guató
Um dos resultados do subprojeto guató é a constituição de um acervo digital da língua. Esta documentação, além de contar com backups próprios dos pesquisadores, está depositado no acervo digital ligado ao Programa de Documentação de Línguas indígenas (Prodoclin) no Museu do Índio (Funai-RJ).
O acervo conta, até o momento com:
-91,7 horas de áudio, somando 41,4 GB, em 2960 arquivos.
-31,3 horas de vídeo, somando 212 GB em 1.029 arquivos.
-3298 fotos, total de 11,5 GB.
Este material está sendo tratado e organizado. Parte do trabalho, resultado das bolsas de Walter Alves de Dayane Pontes, estão descritas no relatório que segue:
O acervo conta, até o momento com:
-91,7 horas de áudio, somando 41,4 GB, em 2960 arquivos.
-31,3 horas de vídeo, somando 212 GB em 1.029 arquivos.
-3298 fotos, total de 11,5 GB.
Este material está sendo tratado e organizado. Parte do trabalho, resultado das bolsas de Walter Alves de Dayane Pontes, estão descritas no relatório que segue:
PUBLICAÇÕES
Primeiros passos da revitalizaçãoda língua guató
(Godoy & Franchetto 2017)
http://www.etnolinguistica.org/biblio:franchetto-2017-guato
Apresentamos um relato etnográfico do início de uma experiência de revitalização e documentação do guató, a última língua das terras baixas do Pantanal (Brasil). Esta iniciativa foi desencadeada pelos próprios Guató, que reivindicam uma Terra Indígena no estado de Mato Grosso, na região do alto rio São Lourenço. A viagem para os Guató de Mato Grosso, em 2016, foi antecedida por um exaustivo trabalho documental e resultou na organização de uma oficina, onde foi produzida uma primeira ‘cartilha’, a ser usada dentro e fora da TI Bahia dos Guató. Como não encontramos nenhum vestígio da língua falada e nem muitas lembranças sobre a língua em Mato Grosso, prosseguimos com nossa empreitada em Mato Grosso do Sul, onde, até poucos anos, havia ainda meia dúzia de falantes. Encontramos dois deles: o já conhecido Vicente e Eufrásia, ambos com mais de setenta anos. Na segunda parte do artigo, descrevemos esses encontros e o trabalho desenvolvido em seguida, com
novas informações sobre os últimos múrmurios antes do Guató ser calado.
Apresentamos um relato etnográfico do início de uma experiência de revitalização e documentação do guató, a última língua das terras baixas do Pantanal (Brasil). Esta iniciativa foi desencadeada pelos próprios Guató, que reivindicam uma Terra Indígena no estado de Mato Grosso, na região do alto rio São Lourenço. A viagem para os Guató de Mato Grosso, em 2016, foi antecedida por um exaustivo trabalho documental e resultou na organização de uma oficina, onde foi produzida uma primeira ‘cartilha’, a ser usada dentro e fora da TI Bahia dos Guató. Como não encontramos nenhum vestígio da língua falada e nem muitas lembranças sobre a língua em Mato Grosso, prosseguimos com nossa empreitada em Mato Grosso do Sul, onde, até poucos anos, havia ainda meia dúzia de falantes. Encontramos dois deles: o já conhecido Vicente e Eufrásia, ambos com mais de setenta anos. Na segunda parte do artigo, descrevemos esses encontros e o trabalho desenvolvido em seguida, com
novas informações sobre os últimos múrmurios antes do Guató ser calado.
O sistema numeral da língua guató
(Alves 2017)
http://www.etnolinguistica.org/tese:cavalcanti-alves-2017
Como parte do projeto Guató, Walter Alves escreveu monografia (na Faculdade de Letras da UFRJ) sobre um aspecto gramatical do Guató. O sistema numeral guató - registrado por Palácio (1984, 1996) - é discutido por Alves (2017) com uma análise dos novos dados obtidos com Eufrásia Ferreira. Neste trabalho, Alves também comenta sobre o uso do sistema de numerais usados na escola indígena da Aldeia Uberaba (Terra Indígena Guató, MS).
Como parte do projeto Guató, Walter Alves escreveu monografia (na Faculdade de Letras da UFRJ) sobre um aspecto gramatical do Guató. O sistema numeral guató - registrado por Palácio (1984, 1996) - é discutido por Alves (2017) com uma análise dos novos dados obtidos com Eufrásia Ferreira. Neste trabalho, Alves também comenta sobre o uso do sistema de numerais usados na escola indígena da Aldeia Uberaba (Terra Indígena Guató, MS).
Guató: A língua, de Max Schmidt (1905)
http://www.etnolinguistica.org/mono:5
Max Schmidt; Gustavo Godoy e Kristina Balykova (prefácio); Kristina Balykova (tradução)
Uma nova tradução, com um prefácio-ensaio sobre a língua guató. Como resultado das pesquisas de Revitalização do Guató. Indianerstudien in Zentralbrasilien (1905) é a primeira grande obra do antropólogo alemão Max Schmidt (1874-1950) sobre índios brasileiros, em que trata da região do Xingu e do Pantanal. No capítulo VIII, Schmidt apresenta uma tentativa pioneira de estudo da língua guató, hoje em dia, em vias de extinção. Além de oferecer uma análise dos sons e da morfologia da língua, apresenta um vocabulário relativamente extenso e um texto ditado pela guató Rosa, comentando sobre a chegada de um visitante. A obra na sua totalidade já foi traduzida para o português por Catharina Baratz Cannabrava (Estudos de Etnologia Brasileira, ed. Companhia Editora Nacional, 1942). Aqui apresentamos uma nova tradução do capítulo VIII, de autoria de Kristina Balykova acompanhada de um prefácio de Gustavo Godoy e da tradutora, em que reunimos informações sobre a história do povo guató, a situação atual da língua, iniciativas de revitalização, uma breve biografia de Max Schmidt, alguns apontamentos gramaticais e notas sobre a tradução. No decorrer dos dados coletados por Max Schmidt, inserimos atualizações de transcrição fonológicas e análise morfológica baseadas em estudos posteriores (como Palácio 1984 e Postigo 2009) e nos resultados do nosso trabalho de campo, realizado com os dois últimos falantes do Guató entre outubro de 2016 e agosto de 2017.
Max Schmidt; Gustavo Godoy e Kristina Balykova (prefácio); Kristina Balykova (tradução)
Uma nova tradução, com um prefácio-ensaio sobre a língua guató. Como resultado das pesquisas de Revitalização do Guató. Indianerstudien in Zentralbrasilien (1905) é a primeira grande obra do antropólogo alemão Max Schmidt (1874-1950) sobre índios brasileiros, em que trata da região do Xingu e do Pantanal. No capítulo VIII, Schmidt apresenta uma tentativa pioneira de estudo da língua guató, hoje em dia, em vias de extinção. Além de oferecer uma análise dos sons e da morfologia da língua, apresenta um vocabulário relativamente extenso e um texto ditado pela guató Rosa, comentando sobre a chegada de um visitante. A obra na sua totalidade já foi traduzida para o português por Catharina Baratz Cannabrava (Estudos de Etnologia Brasileira, ed. Companhia Editora Nacional, 1942). Aqui apresentamos uma nova tradução do capítulo VIII, de autoria de Kristina Balykova acompanhada de um prefácio de Gustavo Godoy e da tradutora, em que reunimos informações sobre a história do povo guató, a situação atual da língua, iniciativas de revitalização, uma breve biografia de Max Schmidt, alguns apontamentos gramaticais e notas sobre a tradução. No decorrer dos dados coletados por Max Schmidt, inserimos atualizações de transcrição fonológicas e análise morfológica baseadas em estudos posteriores (como Palácio 1984 e Postigo 2009) e nos resultados do nosso trabalho de campo, realizado com os dois últimos falantes do Guató entre outubro de 2016 e agosto de 2017.
O guató como língua tonal: uma análise acústica de pares opositivos (Silva 2018)
http://www.etnolinguistica.org/tese:silva-2018
Uma análise acústica dos pares opositivos utilizados por Adair Palácio (1984) e de novos dados coletados durante novas pesquisas, para demonstrar a existência de tons distintivos em guató. Utilizamos o software de análise acústica Praat para analisar os pares opositivos, a fim de realizar uma nova investigação sobre o fenômeno em foco.
Uma análise acústica dos pares opositivos utilizados por Adair Palácio (1984) e de novos dados coletados durante novas pesquisas, para demonstrar a existência de tons distintivos em guató. Utilizamos o software de análise acústica Praat para analisar os pares opositivos, a fim de realizar uma nova investigação sobre o fenômeno em foco.
Expressão de propriedades no guató e no Wa'ikhana
(Balykova 2019)
http://www.etnolinguistica.org/tese:balykova-2019
Uma primeira descrição e análise do comportamento morfossintático dos lexemas com semântica adjetival no Guató (isolado) e wa’ikhana (Tukano Oriental), duas línguas indígenas brasileiras ameaçadas. O Capítulo 1 é dedicado à apresentação dos dois povos. No Capítulo 2, descreve os corpora que serviram de base para o presente trabalho. No Capítulo 3, um panorama dos estudos sobre a classe lexical “adjetivo”, tratando da sua história, da sua caracterização na tipologia e das abordagens teórico-metodológicas acerca da definição das classes lexicais. No Capítulo 4, descreve a expressão de propriedades no guató, argumentando que os lexemas de semântica adjetival se comportam como verbos. Apresento as funções sintáticas desses verbos e a morfologia associada a essas funções, assim como os recursos gramaticais utilizados para negar, intensificar, atenuar e comparar propriedades e para indicar a mudança de estado. No Capítulo 5, descreve a expressão de propriedades no Wa’ikhana, mostrando que a maioria dos lexemas de semântica adjetival também se comportam como verbos. O Capítulo 6 contém a conclusão em que resumo os principais resultados desta pesquisa e apresento alguns passos futuros.
Uma primeira descrição e análise do comportamento morfossintático dos lexemas com semântica adjetival no Guató (isolado) e wa’ikhana (Tukano Oriental), duas línguas indígenas brasileiras ameaçadas. O Capítulo 1 é dedicado à apresentação dos dois povos. No Capítulo 2, descreve os corpora que serviram de base para o presente trabalho. No Capítulo 3, um panorama dos estudos sobre a classe lexical “adjetivo”, tratando da sua história, da sua caracterização na tipologia e das abordagens teórico-metodológicas acerca da definição das classes lexicais. No Capítulo 4, descreve a expressão de propriedades no guató, argumentando que os lexemas de semântica adjetival se comportam como verbos. Apresento as funções sintáticas desses verbos e a morfologia associada a essas funções, assim como os recursos gramaticais utilizados para negar, intensificar, atenuar e comparar propriedades e para indicar a mudança de estado. No Capítulo 5, descreve a expressão de propriedades no Wa’ikhana, mostrando que a maioria dos lexemas de semântica adjetival também se comportam como verbos. O Capítulo 6 contém a conclusão em que resumo os principais resultados desta pesquisa e apresento alguns passos futuros.
The Guató is a highly endangered indigenous language of a people that inhabits the Pantanal since time immemorial. To understand how the obsolescence of this language took place, we present three processes that resulted into disintegration of the Guató family: male celibacy, marriages between Guató women and Brazilian men, and the appropriation of Guató children by fazenda owners. For that purpose, we relate and comment interviews given by Guatós about how the language fell into disuse in their families. Since the Guató people were characterized by a dispersive settlement pattern and an atomization of families, these three processes (which coexisted and affected different families in specific ways) contributed to the degradation of bonds which sustained the Guató language. Along with social and demographic determinants which we do not analyze here closely, such as epidemics, economic fragility, and lack of official identification, the disintegration of families brought to an end the ancient Guató way of living in the Pantanal as well as their language that now lasts in the memory of some elderly persons and, in a more limited way, in school environment and in revitalization attempts.
Como linguistas sabemos que a morte dos anciãos significa, muitas vezes, o desaparecimento de uma herança e de uma sabedoria linguísticas. Acreditamos ser importante alertar, agora, sobre os riscos que estamos enfrentando, junto com as comunidades indígenas, se o COVID-19 chegar às aldeias e atingir os mais vulneráveis entre os vulneráveis. Os pequenos textos que oferecemos falam desse risco que nos amedronta.
Neste últimos anos, os povos originários têm concentrado esforços na retomada de muitas de suas línguas., esforços que não seriam possíveis, na maior parte dos casos, sem as referências vivas que são essas mulheres e esses homens com suas riquezas acumuladas no tempo.
Estamos com medo, diante de um cenário devastador, que pode ver a extinção de inúmeras línguas junto aos seus últimos falantes.
Neste últimos anos, os povos originários têm concentrado esforços na retomada de muitas de suas línguas., esforços que não seriam possíveis, na maior parte dos casos, sem as referências vivas que são essas mulheres e esses homens com suas riquezas acumuladas no tempo.
Estamos com medo, diante de um cenário devastador, que pode ver a extinção de inúmeras línguas junto aos seus últimos falantes.
Guató is an isolate, nearly extinct indigenous language. Only two elders, VS and EF, remember it. They both live in the Pantanal (State of Mato Grosso do Sul, Brazil). Despite the decline in the number of speakers due to farmers’ invading land that once belonged to Indigenous people, new research has been conducted, resulting in a description of some aspects of its grammar. This paper shows the distribution of plural affixes, as used by EF. In Guató, all nouns combine directly with numerals, whether these nouns are mass or count. The language grammaticalizes the mass-count distinction only in the interpretation of quantifiers.